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O adeus a Golfeto

09/10/2023



A palavra morte deriva do latim "mors,mortis", que significa interrupção completa de um organismo. Recorro à etimologia para definir o encerramento do ciclo do professor Antonio Vicente Golfeto neste plano na noite deste domingo (08.10.2023). Mas, no outro plano, religioso que sempre foi, vive a 'eternidade', que vem do latim aeturnus, termo que, por sua vez, é uma derivação de aevum, que significa 'era' ou 'tempo'. O termo costuma ser entendido em dois sentidos. No sentido comum, significa 'sempiternidade' (do latim sempiternus,a,um: 'perpétuo, eterno, imortal'), isto é, duração ou tempo infinito. Para iniciar este texto de despedida a seu estilo, claro que procurei no Google esses significados que Golfeto sabia de cor e salteado. Ele morreu, mas seu legado fica, é eterno.

Como não lembrar e reverenciar aquele me acolheu, nunca sem antes oferecer um café (no copo de plástico) e o seu cartão de visitas (mesmo sabendo que o contato já estava registrado) ainda como repórter da Folha Ribeirão em início de carreira. Ele foi um dos meus primeiros entrevistados na cidade, uma fonte sempre pronta a ajudar os jornalistas, em época que a internet era discada e rara e, o celular, que aliás ele nunca foi adepto, ainda era artigo de luxo e para poucos. Quantas vezes eu, recém-formada voltando de São Paulo para Ribeirão, não fui salva por Golfeto nos pescoções de sexta ou nas intermináveis reuniões de pauta de segunda. Já na Revide, também era fonte recorrente nas minhas reportagens, sempre com suas estimativas de incremento de vendas nas datas comemorativas que, mesmo com metodologia própria e não acadêmica, se confirmavam exatamente ou chegavam bem próximo do real.

Quis o destino que, anos depois, mais experiente e já atuando na comunicação corporativa, eu fosse assessora de imprensa da ACIRP junto com a equipe da Outras Palavras, estreitando nossos laços de amizade. Sempre pedia para as “meninas” do Instituto ligarem para apresentar seus estudos e levantamentos para que virassem sugestões de pauta ou nos presenteava com seus artigos de temas variados nas edições da Revista Ação. Mais uma vez o destino nos aproximou quando a Outras Palavras foi convidada para organizar e editar “Um olhar sobre o mundo – palavras, experiências e reflexões”, uma coletânea de artigos de Golfeto publicados no antigo Jornal A Cidade, do qual ele foi articulista por muitos anos. Quando iniciamos os trabalhos de pesquisa, com muitos artigos ainda em papel, ele logo veio tentar nos fazer desistir da ideia: “Parem com isso, como posso ter um livro meu na mesma prateleira de Monteiro Lobato, Rui Barbosa. Isso não está certo”. Mesmo com sua relutância, a princípio, o livro foi editado pela Acirp, lançado no Salão Nobre da entidade, lotado, e por muitos anos campeão de vendas do ranking da saudosa livraria Paraler.

Na dedicatória do meu exemplar, um versículo bíblico: “Basta a cada dia o seu mal”, (mateus 6.34). Poucas e certeiras palavras já que me conhecia bem e sabia que eu, muitas vezes, ficava excessivamente preocupada com o que estava por vir, deixando até de curtir o momento atual com a intensidade devida.

A última vez que nos encontramos pessoalmente foi em fevereiro de 2022, quando eu e meu marido Eduardo demos uma carona na volta da missa de sétimo dia de dona Edilah Lacerda Biagi, da Catedral Metropolitana de Ribeirão até seu apartamento, a poucos quarteirões dali. No caminho, perguntou sobre a campanha do Fantasma da Mogiana (Batatais Futebol Clube), falou sobre um novo levantamento que estava fazendo sobre investimentos na região metropolitana, sem deixar de ir embora ovacionando o Corinthians e reiterando que o Palmeiras não tinha mundial.

Disse que eu estava sumida, convidou para o tradicional café no Instituto e, ao sair, deixou de novo seu cartão. Esse que eternizo para ilustrar essas poucas palavras que consegui escrever, nessa madrugada em que o sono custou a chegar, e que vai ficar guardado de recordação em minha mesa de trabalho. Que privilégio conhecer e conviver com Golfeto, que mesmo no auge dos meus 50 anos ainda me chamava de menina. Que Deus te receba de braços abertos e, por aqui, vamos aprendendo a lidar com o nosso mal e nosso bem de cada dia, seguindo seu exemplo de fé e de vontade contumaz de ler e aprender sempre.

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